AUGUSTO PIRES

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quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

SOTAQUES ACREANOS EM MÚSICA


Pense num caldeirão com ingredientes fortes da cultura indígena, andina, síria libanesa e nordestina. Um lugar onde a arte está sempre se renovando e mostrando novas formas de expressividade.

Foi essa ebulição cultural que levou o pesquisador e músico Narciso Augusto partir em caravana por municípios acreanos com o objetivo de obter informações sobre as particularidades da cultura musical daqui. O projeto foi batizado de Baquirí. O termo Baquiri em sua formação morfológica é composto pela fusão das palavras baque e Aquirí.

"A primeira palavra é dedicada aos profissionais da velha guarda musical acreana, que em muitos casos a usavam quando se referiam à condução rítmico-musical e, algumas vezes, até mesmo em substituição a designação de ritmo. E a segunda refere-se à expressão que os povos indígenas utilizavam na denominação do rio Acre", explica o músico.

O projeto Baquiri, segundo Narciso, lança mão de um olhar interiorano, busca revelar, ou seja, trazer à superfície sonora, o "SOTAQUE" da expressividade musical acreana, através de um pequeno grupo de compositores, intérpretes e instrumentistas que também insistem em alertar para a grande importância desse elemento na formação da estrutura que irá compor as bases de uma possível indústria musical no Acre.

Com 27 anos de carreira, enriquecida com participações em festivais, Projeto Pixinguinha e apresentações musicais por vários estados como Rondônia, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, e outros, Narciso vem trabalhando desde a década de 80 com a pesquisa da música regional, das letras de músicas indígenas e as cantadas nos rituais do Santo Daime.

"A partir deste trabalho, percebeu-se nos textos a falta de consciência instrumental", revela o pesquisador.
O projeto Baquiri rendeu vários shows com artistas convidados. A gama de elementos pesquisados serviu para a composição das letras das músicas que foram apresentadas nos shows.

Na pesquisa entre os elementos encontrados figuram o Xacundô e o Mariri.

Xacundô

Ainda na década de l980, uma boa parte dos profissionais que faziam parte da "elite" musical de Rio Branco, situando-se as bandas que se preocupavam em elaborar uma reprodução fiel das músicas veiculadas pelos meios de comunicação de massa, utilizavam as palavras xacundô ou xacundum - termo na maioria das vezes carregado de intenção pejorativa que fazia referência às bandas ou grupos musicais que tocavam nos bailes populares da cidade, pelo fato destes não se renderem a certos cuidados com a originalidade dos arranjos propostos pelos artistas da mídia. Mesmo tratando-se de terminologias carregadas ou não de intenções pejorativas, o certo é que esses grupos, ou seja, a turma do Xacundô, acabava elaborando e apresentando muitas vezes, produções musicais bem diferenciadas ou sem o sotaque daquelas executadas nas rádios locais. Como exemplo: o antigo forró do Romeu, Rabo-de-Saia, o Bené do Cavaco, Os Alquimistas, Frank Alden e outros.

Marirí

Um dos elementos importantes encontrados na cultura musical acreana é o acompanhamento solo violonístico executado paralelo à melodia vocal. Sua presença figura nos registros fonográficos da maioria dos hinos religiosos do mariri (Santo Daime, ayahuasca). Uma melodia entoada através do canto é acompanhada, além dos efeitos de percussão dos maracás, pelo solo do violão em uníssono com a voz. Tal aspecto encontra sua razão de ser no pouco conhecimento de harmonia musical da grande maioria dos colonos e ribeirinhos da região, cuja distância dos grandes centros formadores, os coloca até os dias de hoje, sem condições de acesso ao aprendizado teórico em música.
Postado: http://www.overmundo.com.br/

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